segunda-feira, 29 de novembro de 2010

ensaio terceiro sobre o amor

o fim

Um dia ele dirá que precisa ter uma conversa séria.
Mais uma? Pra quê? De que adianta?
E o outro sem nada perguntar, preguiçoso, desiludido com a inutilidade das promessas, das intenções, demora a entender o que ele diz.
Acabou. Mas como? você está louco? Assim de repente, vamos tentar de novo. Não. Acabou. Você pode ficar aqui, se quiser, eu saio.
Virão as justificativas de ambas as partes, o medo da perda, a insegurança.
Depois, pelo menos um dos dois serão tomados por um momento repentino de ira, onde haverá também exaltação do tom de voz, deixando o outro ainda mais irritado.
Quando perceber que não adianta mais e que todo o esforço é sem sentido, descobrirá que o relacionamento não é mais aquela coisa de antes.
Virá um suspiro seguido de um rouco: Eu não te amo mais.

Também poderá ser assim, já ouvi casos parecidos: viagem, são só cinco dias, telefonema só no quinto.
Vou ficar até o final de semana. Preciso por umas idéias em ordem. O trabalho o está sugando muito. Não posso falar agora, tenho que desligar.
Nessa altura, ele estará com seu amante ao lado da cama e com um Whisky na mão. Ele irá transar com esse desconhecido como não transava a muito tempo, talvez ele sinta mais prazer ou apenas se arrependa.
Virão os brindes, os sorrisos, o desabafo do relacionamento. Pode haver choro no colo do amante, que em muitas vezes não se importará muito, mas terá a palavra certa, com o tom de voz certo o deixando apaixonado, decidido.
Telefonema no sétimo dia, já cheguei na cidade. Estou na casa de fulano. Amanhã eu te explico melhor, não há nada com você, você é um homem maravilhoso, é que eu quero viver sozinho. Explica. Explica Como? Mas vem amanhã, quem sabe essa loucura não se modifica, se emociona, se desmancha?
Nenhuma dúvida? Nenhuma pergunta? Nenhuma proposta?
Não. Quero viver sozinho.

Tomara que não aconteça do jeito mais dolorido, mais humilhante, mais violento.
Um dia você irá sair mais cedo do trabalho, passará na locadora e pegar algum filme que ele já tinha falado que queria assistir com você. Dentro do metrô ou do ônibus você ligará para pedir uma pizza; Frango com Catupiry ou A moda? Decidi pedir as duas pra fazer graça.
Abrirá a porta do apartamento e começará a ver as roupas espalhadas pela casa. Deixará o filme sob a mesa de centro da sala e o colocará o dinheiro separado da pizza em cima da estante da sala. Abrirá a porta do quarto para comunicar a sua chegada e vai ver que dormindo na cama com seu namorado tem outro cara.
Você sentirá nojo. Pode ser que você fique em estado de choque. Algumas pessoas reagem a essa situação com gritos, socos e pontapés. Espero que você seja frio, como eu seria. Olhando cada detalhe cuidadosamente para conseguir apagar qualquer rastro de amor que você cultivou por ele. Repare na cama, no lençol amassado, nos corpos nus. Sinta essa dor. Feche a porta e deixe um recado, falando para eles aproveitarem a pizza e o filme. Mande um beijo no final. Ou talvez você parta pra cima apenas do outro cara.
Algum dos dois pode acordar, nesse caso será ainda mais humilhante.
Virão as desculpas, o choro, o arrependimento, as justificativas. Haverão também gritos, constrangimento, decepção, revolta, dor.
Você então pegará algumas coisas e irá para a casa dos pais ou de algum amigo enquanto que, durante algum tempo, receberá ligações do seu namorado pedindo desculpas e pedindo pra voltar.

Já ouvi também casos dramáticos. Estou apaixonado. Estou perdidamente apaixonado por outro homem. Você sabe quem é. Infelizmente aconteceu. Você começará a procurar motivos, se enxergará como culpado pelo que aconteceu. Talvez você implore por mais uma chance ou apenas ache que o problema é consigo; por ser ciumento demais, dependente demais, feio demais.
Você se segurará durante um tempo nesse amor perdido, talvez dure uma semana ou alguns anos. Um dia você simplesmente acordará e vai perceber que foi ele quem te perdeu e foi melhor desse jeito e em alguma oportunidade o agradecerá pela sinceridade.
Quando fizer isso, talvez virem amigos, talvez ele demonstre arrependimento pelo que aconteceu, vocês podem até transar mais uma ou duas vezes ou apenas virarão desconhecidos.

Poderá ser também uma discussão, uma briga feia, dessas que se falam coisas que não se podem ser ditas, daquelas que se utilizam de pequenas coisas para relembrar feridas. Talvez uma frase só.
Então, os dois ficarão mudos, um cobrirá o rosto com as mãos, o outro o abraçará. Ficarão nessa posição durante um tempo, paralisados pelo que ouviram ou disseram. Irreversível, imperdoável. Um abrirá o armário e tirará uma mala. Sairá em silêncio. Não há mais nada a ser dito. Talvez num futuro sejam convidados para uma mesma festa e se reencontrem. Não serão amigos. Trata-se de Ego ferido.

Pode ser que ele se recuse a mudar de cidade. Não. Pra lá não. Prefiro separar. Apenas destino.

Ou um dos dois simplesmente não suportará a repetição de um porre ou mais um atraso da mãe do outro. Não haverão motivos e sim justificativas. Naquele momento, tudo parecerá melhor do que a submissão ao intolerável, tudo caberá num instante de cansaço. Grandes chances de um ser convidado para o casamento do outro.

Não sei, não sei como será o fim.
Só sei que o amor às vezes escorrega das mãos, cai no chão e se quebra em mil pedaços.
Ficam os estilhaços.
Os rasgos, os cortes.

Um comentário:

"Anjo de Má reputação"[...] disse...

mais te lindo do mundo todo esse meu amorzimmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmm